quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Porque Não Existe o Mundo

                                                     A Leitora à Janela, Vermeer


“Esta pintura possui níveis diversos que interagem com a diferença entre a realidade e a ficção ou, em geral, com as diferenças entre o ser e a sua aparência. A luz cai sobre a pintura, proveniente de uma fonte invisível do lado de fora da janela na metade esquerda da cena, o que atrai a nossa atenção. A cena está diante de nós como num palco, com um cortinado verde puxado para trás, o sublinha a estrutura cénica da pintura. A jovem recebeu uma mensagem escrita que está a ler e é muito provavelmente de uma mensagem amorosa que se trata. As faces estão ligeiramente coradas, o que podemos interpretar como manifestação de vergonha. Além disso, o cortinado é da mesma cor do seu vestido, o que pode ser interpretado, com alguma perspicácia psicanalítica, como uma expressão da vontade que tem quem observa a pintura (que somos nós) de a despir com os olhos. Até porque a observamos numa cena íntima. Um outro indício do tom sexual subjacente à pintura está contido na tigela com a fruta, ligeiramente entornada, de onde caiu um pêssego semicómico, encontrando-se a tigela sobre uma cama de roupa revolta. É de notar, além disso, que a jovem não se volta para a fonte de luz mas sim para acarta que tem na mão e que lê com ar ansioso, aparecendo refletida no vidro da janela aberta. Isto pode ser uma referência crítica ao tema pecado. A jovem rejeita a fonte de luz divina e dá importância aos seus desejos mundanos.”
 
A vida, o universo e tudo o resto – é possível que todos nos interroguemos muitas vezes sobre o que significam. E qual é a nossa situação no meio disto tudo? Seremos apenas um monte de partículas elementares num contentor gigantesco à escala mundial? Ou constituirão os nossos pensamentos, os nossos desejos e as nossas esperanças uma realidade própria e, nesse caso, que realidade constituem? Como podemos compreender a nossa existência ou, mesmo, a existência, em geral? E qual é o alcance do nosso conhecimento? Nesta obra desenvolvo o princípio de uma nova filosofia que parte de um simples pressuposto básico: o mundo não existe. Como o leitor verá, isto não significa que nada exista. O nosso planeta existe, tal como existem os meus sonhos, a evolução, os autoclismos, a queda de cabelo, a esperança, as partículas elementares e até mesmo os unicórnios na Lua, só para citar algumas coisas. O princípio de que o mundo não existe significa que tudo isso existe mas de maneira diferente.» Gabriel não é apenas o professor de filosofia mais jovem da Alemanha, mas também um pensador estimulante, que nos propõe respostas originais para as grandes perguntas da humanidade.
 
Porque Não Existe o Mundo, Markus Gabriel, Temas e Debates, 2014.
 
 

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