quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Vinte Degraus


                                                                  Fotografia Lee Miller



“A imaginação abria espaços por dentro da pessoa. E corria-se o risco de cair por eles abaixo, como Alice pela toca. A menina, porém, não tinha medo. Sentia-se tão forte no seu corpo, o seu pesado corpo mineral, que entregava à imaginação sem que ela conseguisse abrir-lhe feridas. Agia como dona, essa menina, mesmo no caso de a vertigem a cercar, querendo empurra-la para o desequilíbrio. A menina, que não parava quieta, que experimentava posições para a lição, tinha o segredo da estabilidade. Não precisava de dois pés para nada. Usava-os só para não os desprezar, para que eles não sofressem o abandono. Eram uns pés minúsculos para os quais nem se achavam sapatos. Se precisasse de sair, teria que de os pedir emprestados às bonecas. (...)”

 
Este livro reúne onze contos de Hélia Correia. Alguns têm referências reconhecíveis. «Seroda» é outra história de Mariana Cruz, de Amor de Perdição, e «Captura», «um outro ponto de vista para "A Imitação da Rosa" de Clarice Lispector». «Uma Noite em Luddenden» evoca Branwell Brontë. «Hélder e Djalme» são nomes retirados de pessoas reais. «A Dama Singular» é dedicado a uma escritora portuguesa.

Vinte Degraus e Outros Contos, Hélia Correia, Relógio D´Água, 2014.
 

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