quarta-feira, 5 de março de 2014

boderCrossings: leituras tansatlânticas II de Vamberto Freitas





 
Prefácio a boderCrossings: leituras transatlânticas II

 

Este segundo volume de borderCrossings: leituras transatlânticas foi (me) imaginado desde o início quando iniciei a coluna do Açoriano Oriental (Ponta Delgada) em 2010, e quando me foi então proposto assinalar todas as semanas o que, do muito que dentro e fora dos Açores, se ia publicando e que mereceria a atenção dos leitores. Este “muito” refere-se à literatura açoriana de várias gerações, assim como à literatura da nossa imigração, incluindo a que desde há alguns anos a esta parte começou a brotar de vários sectores académicos e intelectuais entre os luso-descendentes, particularmente nos EUA. Não escrevo para satisfazer a curiosidade, por parte de alguns, do que acaba de sair no mercado livreiro português, nem sequer ante os nomes mais novos e sonantes da literatura portuguesa contemporânea. Interessa-me aqui, em primeiro lugar, a escrita contemporânea que tem como referencial a experiência e/imigrante lusa lado a lado com a memória ancestral dos seus descendentes, ou então as ideias que, entre nós, enformam as sociedades em que nos encontramos e com as quais nos identificamos, desde qualquer recanto no mundo lusófono ao continente norte-americano. Nem por um segundo insinuo que o que se encontra comentado e contextualizado entre estas páginas se aproxima de qualquer “cânone” completo da literatura das nossas peregrinações. São escolhas minhas, ou então que se impõem pelos próprios autores que já conquistaram para si um espaço literário nesta ou nas suas sociedades natais, como no caso dos escritores, poetas e ensaístas de primeira ou mais gerações nos Estados Unidos. Para mim, tem sido gratificante ver nascer uma nova geração de escritores que fazem questão de se identificarem ante o seu público anglo-americano como “Portuguese-American writers/escritores luso-americanos”. Em nada se “reduzem” com essa designação, simplesmente reclamam para si todo um passado vivido e/ou transmitido pelas gerações anteriores, as que lhes deram vida, lhes moldaram o destino.

 Aí está, creio, o meu e o trabalho dos meus colegas em toda a parte – sim, a literatura luso-americana existe, e promete um dia, a melhor dela, fazer parte de duas grandes Tradições: a portuguesa e a americana. Não é pouco. É a integração intelectual e artística nas nossas pátrias sem fronteiras, nem sequer já têm língua oficial – somos daqui como somos de toda a parte, para agora redizer, ao contrário, o grande poeta da modernidade lusa transfronteiriça.

Vamberto Freitas

Ponta Delgada

Fevereiro de 2014

 

 

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