quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Leiam com Paixão.




Como ler sobre a paixão sem cair na lamechice, e afogar-se na enxurrada de adjectivos e substantivos em erosão. A literatura é como uma veia ou artéria, uma das ruas de sangue que alimentam o coração dos homens. Com Romeu e Julieta, os dois amantes condenados ao equívoco amoroso, Shakespeare, assentou definitivamente o tema, instituindo um modelo universal. O nosso Camilo, homem de paixões reais, escreveu com mão de mestre, Amor de Perdição, a paixão assolapada de Simão e Teresa e a tragédia das famílias rivais Botelho e Albuquerque. Eça com os seus Maias (Os), definiu a excelência da paixão funesta da literatura nacional. Tristão e Isolda, o amor adúltero do cavalheiro pela princesa, a velha lenda celta deste casal infeliz foram apropriadas por Wagner, a música inspirada na literatura, inesquecível. A Canção de Amor de Alfred J. Prufrock de T.S.Eliot, um dos poemas de pelos quais vale a pena chorar, no entanto a poesia é parcelar e não conta histórias, as pessoas tanto como amam as paixões, amam sobretudo as histórias de paixões. O amante rejeitado, romantismo puro é Jay Gatsby, em o O Grande Gatsby, a vida como uma série ininterrupta de gestos bem-sucedidos, amores, renúncias, enganos, Swann que ama Odette que o não percebe, prosa perfeita de Marcel Proust com Um Amor de Swann, paixão inexplicável a de Archer que ama a condessa Ellen Olenski que o não recebe, A Idade da Inocência, de Edith Wharton, desencontro constante. Madame Bovary de Flaubert e Ana Karenina de Tolstoi, dois monumentos à tontice das mulheres apaixonadas pelo homem errado, o canalha. Tão violento que nenhum homem o conseguiria escrever assim, O Monte dos Vendavais, de Emily Brontê, talvez o relato mais destruidor, se não leram pelo menos um livro de paixões, leiam este, e da sua irmã Charlotte, Jane Eyre faz com que a familia tenha produzido duas obras-primas. Nabokov conseguiu escrever Lolita, leiam por amor de quem quiseram, e ao de leve Milan Kundera com A Insustentável Leveza do Ser, com final feliz e personagens que chegam a velhas, leiam O Amor nos Tempos de Cólera. E se ainda tiveram folego leiam A Mancha Humana de Phlip Roth e de Ian Mcewan a Expiação.
Se me perguntarem o que fica de fora, fica muita e boa literatura.
 

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