quarta-feira, 3 de outubro de 2012

José Tolentino Mendonça Estação Central




ISTO É O MEU CORPO

O corpo tem degraus, todos eles inclinados
 milhares de lembranças do que lhe aconteceu
 tem filiação, geometria
 um desabamento que começa do avesso
e formas que ninguém ouve

O corpo nunca é o mesmo
ainda quando se repete:
de onde vem este braço que toca no outro,
de onde vêm estas pernas entrelaçadas
como alcanço este pé que coloco adiante?

 
Não aprendo com o corpo a levantar-me,
aprendo a cair e a perguntar

 
Estação Central, José Tolentino Mendonça, Assírio Alvim.

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