quarta-feira, 27 de abril de 2011

Insónias



Sofrendo de insónias, o conde russo Hermann Von Keyserling, tinha solicitado a Goldberg seu serviçal e jovem talentoso cravista que tocasse uma obra intimista para lhe tornar mais suportáveis as longas horas privadas de sono. Um certo dia, o conde pediu a Bach que compusesse alguns trechos com essa finalidade, com um carácter simultaneamente doce e alegre. Foi essa circunstância que nos valeu esta incomparável suite de variações. O conde ficou tão encantado que decidiu chamar-lhes «as minhas variações».A cada noite de insónia mandava chamar o cravista: « meu caro Golberg, toca mais uma das minhas variações».
Não temos um Golberg, mas podemos escutar Glenn Gould e as suas célebres interpretações das quais se pode dizer que a gravação feita em 1955 praticamente reinventou a obra. Gould foi um daqueles intérpretes que escondem o compositor debaixo do piano para ficarem sozinhos na fotografia. Certo é que o seu piano nos torna mais suportáveis as nossas longas horas privadas de sono.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

23 Abril Dia Mundial do Livro

Ilustração de João Vaz de Carvalho




quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Invenção do Dia Claro

Almada Negreiros 1917



"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida.
Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa salvar-se.
"

José de Almada Negreiros, in A Invenção do Dia Claro.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Victoria

Claude Monet

Victoria, livro de rara beleza narrativa, é uma das obras mais representativas de Knut Hamsun. O enredo marca o regresso do autor de «Pan» – escrito quatro anos antes – ao tema do trágico desencontro amoroso, que tem na descrição da beleza taciturna e melancólica da natureza nórdica o seu espelho. Johannes, filho de um modesto moleiro, que em jovem sonha trabalhar numa fábrica de fósforos para ter os dedos sempre sujos de enxofre e assim não ter de apertar a mão a ninguém, ama Victoria, jovem de família aristocrata mas com poucos meios financeiros. Contudo, o deles será um amor impossível, pois Victoria vê-se obrigada a casar com o rival Otto para salvar a família da bancarrota.


"Meu Deus, como o seu coração batia; não batia, tremia. Queria dizer alguma coisa, mas não conseguia. Só movia os lábios. Um perfume emanava da sua roupa, do seu vestido amarelo, ou talvez apenas da sua boca."


Victoria de Knut Hamsun, Ed. Cavalo de Ferro, 2011.



ar leve

“Toda a sua complexa personalidade estava inteiramente à mercê do «ar leve».” A Humilhação de Philip Roth, Ed. D. Quixote, 2011.

sábado, 16 de abril de 2011

Um Take

«-Um take de quanto tempo?

-Depende de ti. Há um filme russo, uma longa-metragem, A Arca Russa, de Alexander Sokurov. Um único plano-sequência, cerca de um milhar de actores e figurantes, três orquestras, histórias, fantasias, cenas com grandes multidões, cenas num salão de baile e, a certa altura, ao fim de uma hora de filme, um empregado deixa cair um guardanapo, não há corte, não se pode cortar, a câmara voa ao longo de corredores, dobra esquinas. Noventa e nove minutos - disse eu.

-Mas isso foi um homem chamado Alexander Sokurov. Tu chamas-te Jim Finley.»

Ponto Ómega de Don Delillo, Sextante Editora, 2011

Mas já leu estes livros todos?

O número de livros que se pode ler em vida é difícil de avaliar. Há livros e livros, uns maiores e outros mais pequenos, uns fáceis de ler e outros que exigem uma leitura mais lenta. Numa biblioteca que tenha mais de 6000 livros, na melhor e raríssima hipótese de ser um grande e excepcional leitor, no máximo terá lido à volta de 2500 volumes. A possibilidade de ler 100 livros por ano, o que, em 60 anos úteis de leitura, dá à volta de 6000, parece-me um número muito exagerado, ninguém consegue manter tanta regularidade de leitura. Walter Benjamin calculava o número em cerca de 10% de livros lidos numa biblioteca de amador, ou seja, neste momento está a pensar nos milhares de livros que deseja tanto ler e certamente nunca terá tempo para os ler a todos. À eterna pergunta “Mas já leu estes livros todos?” feita de um modo geral, por quem não tem muita experiência de leitura, responda não, mas pior seria deixar de ter livros para ler.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

" A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente" ( A. Camus)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

ExtraTexto

Humphrey Bogart e Laren Bacall

sábado, 2 de abril de 2011

Indignai-vos!

Paul Klee, Angelus Novus


No texto, Stéphane Hessel remete para esta obra de Klee e para o comentário que o filósofo alemão Walter Benjamin fez sobre ela nas suas Teses sobre a Filosofia da História, escritas em 1940, sob o choque do pacto germano-soviético. Walter Benjamin foi o primeiro proprietário desta obra. Via nela um anjo a repelir «essa tempestade à qual chamamos progresso».


«uma verdadeira insurreição pacífica contra os meios de comunicação de massas que só apresentam como horizonte à nossa juventude uma sociedade de consumo, o desprezo pelos mais fracos e pela cultura, a amnésia generalizada e a competição renhida de todos contra todos.» A todos aqueles e aquelas que irão fazer o século XXI, dizemos com afecto: CRIAR É RESISTIR. RESISTIR É CRIAR.


Indignai-vos! de Stéphane Hessel, Ed. Objectiva,2011.