domingo, 23 de maio de 2010

viajante de cartolina

Hoje não me apetecia escrever. Não que não haja sobre o que escrever mas não me apetece escrever mais sobre a visita do papa ou escrever alguma coisa sobre os aumentos de impostos como medidas de austeridade.
Apetecia-me sair daqui para fora por uns dias. É que corro o risco de me transformar num penedo de basalto se não me atiro ao caminho.
O que queria mesmo era ir a Nova Iorque ou à Grécia que como se sabe está também em apuros. Eu não lhes levaria esperança já que também sou um pais necessitado, somente ver a Acrópole de Atenas pela qual nutro um certo fascínio. A Nova Iorque, uma das minhas cidades feitiche, iria já. Faria um périplo pelas galerias de arte e pelos bairros chiques sem esquecer as zonas degradadas e perigosas, ainda que me arrisque a ficar a detestar a cidade. Essa minha inclinação por Nova Iorque só pode ter a ver com leituras e filmes. E isso como se sabe é enganador porque a metrópole que fui retirando dos filmes e livros não é necessariamente a Nova Iorque real. Woody Allen foi o meu primeiro cicerone da cidade. “Manhattan” é um daqueles filmes extraordinários, filmado a preto e branco por mestre Gordon Willis, com diálogos primorosos e uma visão romântica da cidade. Mas John dos Passos também me apresentou literariamente a cidade em “Manhattan Transfer” , uma trilogia ambientada na Nova Iorque dos anos vinte com diversas tomadas de vista, de ângulos variados. E depois há a Nova Iorque de Andy Warhol, de Keith Haring, de Jean-Michel Basquiat, a Nova Iorque de Henry Miller, a Nova Iorque de Martin Scorsese. Bem não sei qual delas prefiro mas já me contentava com a real. E enquanto não vou a Istambul sempre posso ler o Orhan Pamuk
Mas como sedentário forçado pelas circunstâncias vou-me apaziguando ao espreitar por essa janela debruçada sobre o mundo que é a net. E já não é mau.

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